Ecomotion 2011 – Em uma prova de recuperação, QuasarLontra conquista 4o lugar
Aconteceu durante a última semana mais uma edição de uma das mais tradicionais corridas de aventura do Mundo, o Ecomotion-Pró 2011. Neste ano, a região de Porto Seguro, no sul da Bahia foi o cenário de mais este desafio épico.
A equipe QuasarLontra, presente em todas as edições dos Ecomotions, esteve mais uma vez presente. Só que nesta edição, em virtude de boa parte dos seus integrantes estarem com outros compromissos que os impediam de participar em plena forma, Rafael Campos e Mateus Ferraz formaram uma equipe com o experiente casal americano Paul Romero e Karen Lundgren, da team Sole.
Imprevistos Quando se participa de uma corrida de aventura, o que se tem certeza é que os imprevistos estarão sempre presentes. Mas desta vez, eles começaram a aparecer em grande escala ainda bem antes da largada. A uma semana da prova, Xiquito (Erasmo Cardoso), que vinha se dedicando a 3 meses para esta corrida, sofreu um acidente de bicicleta. Ao trombar com outro ciclista desmaiou e só acordou no hospital, quando se deu conta de que havia quebrado um braço, além de cortes pelo corpo. Assim, a menos de 5 dias para a largada, a equipe procurava um atleta próximo do nível do Xiquito para substituí-lo. E conseguiu com que Mateus Ferraz bravamente aceitasse o desafio, apesar de não estar se preparando para a prova. A equipe mal sabia que perdia um atleta fenomenal, mas ganhava um dos melhores apoio que já teve: Xiquito, de braço quebrado, pegou seu pai e sua kombi e foram fazer apoio para a equipe. E que apoio!!
Outro imprevisto aconteceu já em Porto Seguro, a 3 dias da largada. Um dos carros de apoio contratados para a
corrida não compareceu e então a equipe saiu em busca de mais um carro para completar a equipe. E conseguiu a participação de uma L200 de um guia local (Eduardo), para se somar à Kombi do Xiquito.
A prova No domingo véspera da lagada, os atletas se deslocaram em comboio para a cidade de Prado, a cerca de 250km ao sul de Porto Seguro. Lá receberam os mapas, e às 18:00 embarcaram em uma escuna que os levaram até o charmoso resort La Isla, onde aconteceu o briefing da competição. Após aproveitarem o jantar oferecido pela organização do Ecomotion, as 38 equipes com atletas de dez nacionalidades diferentes embarcaram novamente em escunas, às 21:30. Agora o destino era o ponto da largada da prova que aconteceria na manhã seguinte: alto-mar, em um recife de corais e banco de areia a cerca de 10km da costa, de onde mal se avistava as praias. E após passarem a madrugada na escuna, às 05:30 os atletas começaram a embarcar nos caiaques duplos e se prepararem para a emocionante largada. E foi com a mesma vista que a esquadra de Pedro Álvares Cabral teve a 511 anos atrás, quando chegou ao Brasil, que os atletas largaram para este marcante evento. A bordo de um caiaque sit-on-top Eko, as equipes remaram em dir
eção à praia
até entrarem por um canal. Já na largada, algumas equipes afundaram seus caiaques, mas foram resgatadas pelos barcos de apoio e transportadas à praia, e seguiram posteriormente na competição.
Na primeira transição na cidade de Prado, as equipes deixaram os caiaques e partiram de mountain bike, para um trecho de 48km. O dia estava muito quente, e já mostrava aos atletas como seria o clima nos próximos dias. Em Cumuruxatiba, nova transição, agora para o trekking mais longo da prova: 80km. As equipes ainda estavam bastante próximas umas das outras, e a disputa era grande. Neste trekking, cerca de 40km foram percorridos pela costa, cruzando rios, até a a ponta do Corumbau. E terminava com a subida do Monte Pascoal, em uma subida de 740m de desnível. Na madrugada, a QuasarLontra terminou este trekking e na liderança
fez a transição para outra etapa de moutain bike. Os 38km seguintes foram muito desgastantes, pois a chuva forte deixou as estradas cobertas de lama , que ficaram intransitáveis. Em 50% do percurso era necessário carregar as bikes nas costas, pois a lama argilosa grudava nos pneus e impediam as rodas de girar. O desgaste das bicicletas foi muito grande também. Freios e câmbios da maioria das equipes já paravam de funcionar.
Nova troca para outro trekking, desta vez de 40km. A chuva da
madrugada dava lugar a um novo dia de sol e muito calor. Entretanto, a lama formada deixou algumas estradas intransitáveis, o que impediu os carros de apoio a chegarem à próxima área de transição. Com isso os atetas tiveram de percorrer 7km a mais até que pudessem receber a assistência de sua equipe.
Após se alimentarem e tratarem dos pés já bastante judiados, a QuasarLontra seguiu de mountain bike, terminando a etapa na liderança da prova. A corrida estava entrando em sua segunda noite. A QuasarLontra partiu para mais um trekking, cuja previsão era de que nos primeiros 10km a navegação seria complicada devido à ausência de trilhas. Os planos da equipe eram de atravessar este trecho mais complicado no início da noite, e então fazer sua primeira pausa para dormir. Entretanto a equipe perdeu muito mais tempo para chegar ao próximo PC do que planejava. Ao descer o morro sem trilha, por duas vezes de deparou com um penhasco que os impediam de prosseguir. Decidiram voltar para procurar outra alternativa, mas perderam muito tempo, e só saíram da mata fechada próximo do amanhecer. Ainda perm
aneciam na liderança, mas a madrugada que deveria ter sido aproveitada com 1 hora de sono, foi trocada por mais desgaste “rasgando mato” embaixo de chuva.
Mais da metade da distância total a ser percorrida ja tinha ficado para trás, quando veio a etapa de técnicas verticais: uma ascensão de uma pedra na cidade de Guaratinga, através de cordas com 1200m. E e na sequência, um rappel da mesma pedra. Neste momento, com problemas nos equipamentos e devido ao congestionamento nas vias, a QuasarLontra perdia a liderança. Mas na etapa seguinte de moutain bike saiu novamente decidida a recuperá-la. Com os pés de alguns atletas bastante fragilizados, a estratégia da equipe passou a ser de imprimir ritmo forte no mountain bike para tentar manter a posição durante o trekking.
Mas nova surpresa: durante a madrugada o quadro da bike de Paul Romero se partiu. A sensação no momento era de puro desespero. Por alguns instantes, os atletas achavam que a prova acabaria ali. Mas Mateus colocou-se a “remendar” o quadro da bike com o pouco de ferramentas que tinham e os entulhos de uma fazenda. E após cerca de 2 horas, conseguiu fazer uma “gambiarra” que permitia continuarem pedalando, ainda que com cuidado e de forma mais leve. Ao chegar a mais um PC na cidade de Monte Pascoal ao amanhecer, a equipe decidiu procurar um serralheiro com a intenção de reforçar o “remendo na bike”. E assim permaneceram por mais cerca de 1h30 em uma oficina simples tentando reforçar o estrago do quadro. Mas todo o esforço foi em vão. Ao retomarem a pedalada, o quadro já comprometido rompeu-se em outro lugar. Não havia mais condições de continuar com aquela bike. Foi quando os atletas decidiram voltar à cidade na busca de alugar ou pegar emprestada qualquer outra bicicleta. Cientes do que diz o regulamento da prova, a QuasarLontra encontrou o atleta Rodrigo, da equipe adventurecamp. Sua equipe havia abandonado a competição a dois dias, mas o atleta decidiu fazer alguns trechos da prova para aproveitar. E ao cruzá-lo, a QuasarLontra pediu sua bike emprestada para terminar esta etapa de mountain bike.
Em Caraíva, aconteceu a transição para o último trekking da prova, boa parte pelas praias paradisíacas e desertas da região. Com os problemas enfrentados até aquele momento, a equipe estava brigando pela 2a colocação. Mas a areia e cruzamentos de rios passaram a “judiar” cada vez mais do casal americano que integrava a equipe. Karen, a este momento, somente gemia de dores a cada passada. Quando era ncessário cruzar rios, o fazia chorando, tamanha era a dor em seus pés. Não havia o que fazer, senão manter um ritmo mais lento, no limite da dor que Karen e Paul suportassem. Sem dúvida foi o trecho mais difícil da prova para a equipe, tentando superarar imensa dor nos pés. Na madrugada do 5o dia de prova, em Trancoso, finalmente a equipe terminava aquele trekking, o último da prova.
Partiram então para a última etapa de moutain bike, já na 3a colocação. Mas os imprevistos continuaram, e pedalando com uma bike emprestada, um pneu traseiro estourou e rasgou. O estrago exigiu mais improviso e tempo, até que fosse feito um reparo satisfatório que permitisse continuar pedalando. Neste momento a equipe perdia sua 3a posição para os colegas da equipe Lobo Guará. Era próximo das 11:00, quando a QuasarLontra finalmente embarcou nos caiaques em direção a linha de chegada, em um trecho com 54km. A distância da equipe à sua frente e também atrás ja era razoável, e muito difícil de se alterar as posições. A última remada apesar de longa, foi tranquila. E finalmente no por do sol, a QuasarLontra chegava à cidade de Porto Seguro. O último PC era em uma praia na cidade, e pouco mais de 1km separava ele da linha de chegada. Neste trecho final, Karen já não conseguia por os pés no chão, e cruzou a linha de chegada carregada nos ombros pelos companheiros de equipe.
O casal americano confessou nunca terem sofrido tanto em uma prova como esta, em virtude dos problemas nos pés que tiveram. Mas apesar da dor e do sofrimento, não cogitaram parar em momento algum.
Uma das primeiras conversas que os atletas da QuasarLontra combinaram quando se encontraram pela
primeira vez em Porto seguro, é que não abandonariam a prova em hipótese alguma. E talvez tenha sido este pacto que fez com que a equipe, mesmo com os pés em condições que os impossibilitavam de andar, não pensou em desistir. Quando perguntado sobre a comparação entre esta prova e a subida ao Monte Everest, que Paul Romero e sua mulher Karen fizeram com o filho Jordam no ano passado, o americano foi categórico em dizer que esta prova foi muito mais difícil de terminar do que a subida ao pico mais alto do planeta.
O resultado final talvez não tenha sido o almejado pela equipe. Mas a experiêcia adquirida e trabalho em equipe realisado durante os cinco dias de prova, ficarão marcados para sempre na cabeça destes atletas.
A equipe agradece de coração, àqueles que tanto ajudaram e apoiaram antes e durante a corrida. Um reconhecimento especial vai à toda a equipe de apoio, formada pelo Xiquito, seu pai Sr Marreco, Glaucia, Xuxa, Glen Miller e Eduardo. Eles enfrenteram muito calor e chuva, também ficaram privados de sono por quase uma semana, e ainda assim a cada transição enchiam os atletas de boa comida e estímulos para continuarem. E reconhecimento especial também ao Rodrigo “trator” e o João Bali, por terem emprestados suas bikes quando a da equipe estava quebrada na prova.
E a todos os parceiros, amigos, familiares e simpatizantes que sempre estimularam muito a equipe, nosso muito obrigado
Veja os detalhes da prova e o mural de fotos pelo site oficial www.ecomotionpro.com.br, ou pelo também pelo facebook do Ricardo Tamaoki – Xuxa (equipe de apoio)